Todas as regiões vinícolas do mundo têm seus rótulos míticos, que traduzem todo o orgulho de uma nação. Em Portugal, não poderia ser diferente. Assim como Camões, Fernando Pessoa e Amália Rodrigues, os vinhos “Pera Manca” e “Barca Velha” figuram entre os grandes ícones lusitanos.
PERA MANCA: TESOURO DO ALENTEJO
Reza a lenda que o vinho levado nas caravelas na época das grandes navegações e do descobrimento do Brasil, provavelmente foi o Pera Manca, produzido na cidade de Évora, no Alentejo. Citado em escritos quinhentistas, o rótulo teria sido o que Cabral ofereceu ao índios logo que pisou em nosso país.
Há, ainda, aqueles que creem veementemente que o vinho citado por Luís de Camões na obra “Os Lusíadas” também seria o Pera Manca. A origem de seu nome se dá em virtude do terreno onde era produzido, um barranco repleto de pedras soltas. Dizia-se que essas pedras balançavam, mancavam. Por isso, “Pera Manca” significa “Pedra Manca”.
Em 1988, o herdeiro da Casa Agrícola José Soares, que antes detinha os direitos de uso do nome “Pera Manca”, doou a marca à FEA (Fundação Eugénio de Almeida), dona da Adega Cartuxa. Com isso, o vinho premium da marca, o “Cartuxa Garrafeira”, passou a se chamar “Pera Manca”. A primeira safra da nova bebida chegou ao mercado em 1990. A partir daí, o rótulo-ícone passou a ser produzido somente em anos excepcionais. Nos demais, o vinho é vendido como Cartuxa Reserva.
A composição do Pera Manca costuma variar, mas a base é sempre das castas Trincadeira e Aragonez. Outro destaque fica por conta da madeira utilizada. O vinho fica armazenado em tonéis de 3.000 litros, com mais de 50 anos de idade. Ou seja, é nessas horas que a gente entende o porquê do alto valor cobrado por garrafa. Isso porque eu nem cheguei a mencionar que apenas cerca de 15 a 30 mil garrafas de Pera Manca são produzidas por ano. Um volume pequeno face a outros vinhos.
BARCA VELHA: O TESOURO DO DOURO
Se me perguntarem qual o vinho português mais emblemático, sem dúvida, Barca Velha será o primeiro nome a surgir em minha mente.
Esse foi o primeiro e, por décadas, o único vinho lusitano a ganhar fama internacional. Criado a partir da mítica safra de 1952, por Fernando Nicolau de Almeida, enólogo da Casa Ferreira desde 1927, o Barca foi pioneiro entre os grandes vinhos finos produzidos atualmente na região do Douro.
Tudo porque, antigamente, apenas os Vinhos do Porto eram mais valorizados. Geralmente, os vinhos de mesa eram fabricados com as uvas que sobravam das safras de Porto, sendo considerados, portanto, inferiores. Até que Fernando Nicolau decidiu produzir um vinho fino com a mesma filosofia do Porto Vintage. O resultado, todos nós sabemos ou já ouvimos falar: um verdadeiro espetáculo!
O nome “Barca Velha” nasceu de um vinhedo na Quinta do Vale do Meão, uma das propriedades que forneciam uvas para a mistura do vinho. Nesse vinhedo, situado às margens do Douro, havia uma velha barca, usada para cruzar o rio. Curioso é que as cepas cultivadas ali eram Malvasia Rei brancas, que jamais foram utilizadas na elaboração desse vinho-ícone.
O Barca Velha também só é produzido em anos de grandes safras. O rigor com sua elaboração é tão grande, que em determinado momento, houve um intervalo de 12 anos entre uma safra e outra. O primeiro a ser lançado, em 1952, só entrou no mercado em 1960. Quando não atinge o grau de qualidade desejado, o vinho é vendido como Reserva Ferreirinha. Trata-se de um exemplar de grande longevidade. Está pronto aos 10 anos e pode viver muito bem até os 20 ou mais. Sua produção gira em torno de 50 mil garrafas por ano.
O que eu achei legal nessa pesquisa? Foi saber mais sobre dois rótulos icônicos, carregados de história. E, lógico, poder contar tudo aqui para vocês. Antes que me perguntem, ainda não tive bala na agulha para degustar nenhum dos dois. Um dia, quem sabe? Porém, só de ouvir falar me deu a maior vontade de buscar mais informações sobre eles. Afinal, amo história e vinhos!
Por curiosidade quanto custa o pera manca e o barca velha citados.
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