Taça Viajante: a Efervescente Champagne

Finalmente, a série Terroir Francês chega à bela região vinícola da Champagne, famosa por produzir alguns dos melhores espumantes do mundo. Sou apaixonada, não só pelas lindas paisagens, como também pela trajetória das Maisons (Casas de Champagne), que há séculos figuram como algumas das mais importantes do mundo de Baco.

AGORA, ABRA UMA CHAMPAGNE E VIAJE NA TAÇA!

Então, que tal se agora nós abríssemos uma champagne e nos transportássemos para esse terroir carregado de essência e história? Prepare-se, pois a viagem tem tudo para ser inesquecível!

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Vinhedo em Reims, Champagne

Champagne é uma região vinícola da França, localizada a cerca de 150km de Paris. Antes da criação do Méthode Traditionnelle ou Champenoise, processo que produz o espumante por meio da fermentação na garrafa, o local fabricava vinhos tranquilos para suprir a grande população vizinha de Paris. Os habitantes da Champagne ou Champenois alegam que o monge Dom Pérignon foi o responsável pela criação do método champenoise, no século XVII. Sabemos que essa história é um tanto quanto controversa. Porém, é inegável que Pérignon contribuiu muito para  o sucesso e aperfeiçoamento desta técnica.

A região é conhecida como um terroir de solo calcário e clima mais frio do que o resto da França, ambos resultando em vinhos finos requintados e de forte caráter mineral.

SUB-REGIÕES

  • Montanha de Reims – região mais fria, onde reinam as uvas tintas, principalmente a Pinot Noir, com vários vinhedos Grands Crus e Premier Crus, nove, dos 17 Grands Crus, localizam-se aqui. Os mais famosos são Mailly, Verzenay, Verzy, Ambonnay e Bouzy;
  • Vale de Marne – Solo menos calcário, com predomínio de argila. Predomínio das duas Pinots (Noir e Meunier), com dois vilarejos Grand Crus (Aÿ e Tours-sur- Marne);
  • Côtes de Blancs – Como o nome diz, predomínio de Chardonnay. Clima ameno, solo calcário. Aqui se situam cinco Grands Crus (Cramant, Avize, Oger, Le Mesnil sur Oger e Chouilly);
  • Côte de Sézanne – Região recente, continuação da Côtes de Blancs, com vinhas plantadas em 1960, predomínio de Chardonnay;
  • Cote des Bar – no departamento de Aube, tem invernos frios e verões quentes, solos argilosos, predomínio de Pinot Noir, que nessa sub-região alcança mais corpo.

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Vale ressaltar que diferente de outras regiões francesas, como Bordeaux, o nome da sub-região na Champagne é menos importante, pois os espumantes são mais conhecidos pelas marcas das grandes casas, ou maisons. Nomes como Krug, Salon e Chandon contam mais do que o nome da sub-região.

DENOMINAÇÃO DE ORIGEM CONTROLADA (AOC)

Embora muita gente se refira a qualquer espumante como champagne, hoje em dia existe uma legislação que determina que o nome Champagne só pode ser usado em rótulos provenientes desta região vinícola. As únicas exceções são alguns produtores norte-americanos que utilizam há décadas a denominação California Champagne, bem como a Peterlongo, vinícola brasileira que conseguiu os direitos de uso do nome nos anos 70, por meio do Supremo Tribunal de Justiça. Todos esses produtores alegam que já produziam o “champagne” mesmo antes da AOC (Denominação de Origem Controlada) entrar em vigor, em 1927.

Porém, não canso de mencionar que esse tipo de coisa não faz nenhum sentido além do marketing. Champanhe de verdade, só aquele produzido na região francesa de Champagne.

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Cave Moët & Chandon 

PRINCIPAIS CASTAS DE UVA

O Champagne é feito sempre a partir de três castas (solo ou misturadas): As tintas Pinot Noir e Pinot Meunier (das quais se faz um vinho branco) e a branca Chardonnay. Geralmente as tintas emprestam à mistura caráter mais austero, mais corpo, aromas de frutas vermelhas, enquanto a Chardonnay dá mais cremosidade e elegância.

Mundialmente famosa, a Chardonnay encontrou uma de suas melhores expressões nos espumantes da Champagne. As melhores uvas e vinhos provém da sub-região de Cotês Des Blancs.

A Pinot Noir é usada na elaboração de espumantes brancos devido ao fato de não se extrair toda a cor da casca da uva durante a prensagem. Trata-se ainda, de um elemento importante na produção do champagne rosé.

Por fim, a Pinot Meunier é uma outra variedade de uva tinta utilizada na produção de champagnes brancos e rosés, contribuindo com nuances mais leves e frutadas.

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ESTILOS DE VINHOS

Champagne produz espumantes brancos e rosés de diversos estilos, sendo classificados de acordo com a seguinte escala, do mais seco para os mais doces. Aqui, o que manda é a quantidade de gramas por litro de açúcar da bebida.

  • Brut Nature (or brut zero, non-dosé, ultra brut, brut sauvage) : 0-2 g/L de açúcar
  • Extra Brut: 0-6 g/L de açúcar
  • Brut: 6-12 g/L de açúcar 
  • Extra Sec (Extra Dry, Extra Seco): 12-17 g/L de açúcar
  • Sec (Dry): 17-32 g/L de açúcar
  • Demi-Sec (Medium Dry, Meio-Doce): 32-50 g/L de açúcar
  • Doux (Sweet, Doce): more than 50 g/L de açúcar

Alguns vinhedos e vinhos são classificados de acordo com seu grau de qualidade Cru ou Premier Cru. 

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Champagnes elaborados 100% com uvas Chardonnay são denominados Blanc de Blancs, enquanto aqueles feitos 100% com uvas Pinot Noir são chamados Blanc de Noirs. Bem menos famosos são os vinhos tintos produzidos na região, rotulados como Coteaux Champenois.

ALGUNS RÓTULOS FAMOSOS

  • Dom Pérignon Champagne Brut
  • Louis Roederer Champagne Cristal Brut
  • Moët & Chandon Champagne Imperial Brut
  • Krug Champagne Grande Cuvée Brut
  • Salon Le Mesnil Blanc De Blancs Brut
  • Veuve Cliquot Champanhe Brut 

Espero que tenha gostado da nossa pequena aventura. Lugares lindos e alguns dos melhores espumantes do mundo. Se bem que os nossos rótulos brazucas não têm deixado nem um pouco a desejar, colocando-se em pé de igualdade com muitos desses vinhos. Porém, a tradição champenois é inegável, conquistada através dos séculos, em uma região que foi devastada por diversas guerras e conseguiu se reerguer. Sem dúvida, um orgulho para os franceses e todos os apreciadores dessa bebida mágica.

Referências: Vivino e Revista Adega.

7 comentários

  1. Olá, apenas para complementar o seu excelente texto:

    Apesar de mta gente não saber, pois normalmente o q conhecemos é feito só com 3, são 8 as variedades autorizadas na Champagne: Chardonnay, Pinot noir, Pinot meunier, Pinot blanc, Fromenteau (ou Pinot Gris), Enfumé (tipo de Pinot meunier com casca cor de rosa translúcida) e ainda 2 variedades antigas: Arbanne (usada em um dos rótulos da Champagne Moutard e a Petit Meslier. A Arbanne inclusive está praticamente extinta só existe 1 hectare.

    Uma visita à página do CIVC – Comité Interprofessionnel du Vin de Champagne para saber que a lista vai além das três variedades clássicas: lá se encontram também as brancas Arbane, Petit Meslier e Pinot Blanc e a rosada Pinot Gris. Mas são castas quase que unicamente históricas e sua produção é absolutamente desimportante. Enquanto a Pinot Noir representa 38%, a Pinot Meunier 32% e a Chardonnay 30% do total de vinhedos, esses quatro micos-pretos somados não atingem 0,3% da área plantada da Champagne.

    Champagnes raros
    Não obstante a pequena produção, existem casas que apostam nessas variedades. A Moutard Père & Fils apresenta dois interessantes rótulos: o Moutard Vieilles Vignes, 100% Arbane, e o Moutard Cuvée des 6 Cépages, um corte de Arbane, Petit Meslier, Pinot Blanc, Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier.

    Tive o previlegio de beber recentemente o Moutard 2004 que é um Cuvee des 6 cepages

    Saúde e continuação deste excelente trabalho

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    • Paulo, Muito obrigada pela bela aula! E por prestigiar o Vila Vinífera. Seu comentário é um baita complemento para a minha postagem. Obrigada e volte sempre! Tim-Tim (com champanhe, claro!)

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