Fui convidada pela Confraria Amavinho para participar de um bate-papo com ninguém menos que Mônica Rossetti e Juliano Carraro, Enóloga e Diretor de Marketing, respectivamente, da vinícola oficial dos Jogos Olímpicos de 2016 e uma das mais badaladas do país, a Lídio Carraro. A apresentação, com degustação de vários rótulos da empresa, aconteceu ontem, no restaurante Majórica, refúgio da Amavinho no Rio de Janeiro.
Costumo dizer que o trabalho de um enólogo é semelhante ao de um pintor. Afinal, muitos dos vinhos que degustamos são verdadeiras obras de arte. Agora, qual foi a experiência de degustar os rótulos na presença de quem os criou? Com certeza, vai ficar na memória.
Aos 33 anos, Mônica Rossetti já conta com 31 vindimas no currículo e também pudera! Desde os 18 anos a enóloga, que se divide entre Brasil e Itália, atua tanto no Novo quanto no Velho Mundo, num total de duas safras por ano. Mônica é da turma que tirou o passaporte para o universo vitivinícola cedo, aos 15 anos, quando entrou no ensino médio técnico em enologia. Ou seja, apesar da pouca idade, não lhe falta experiência e isso ficou muito claro para mim ao sentir no paladar os resultados de seu trabalho.
LÍDIO CARRARO VINÍCOLA BOUTIQUE
“Esta vinícola, hoje em sua 5ª geração, é uma das minhas favoritas.”
(Steven Spurrier, em entrevista para a Revista Decanter de Londres)
A Lídio Carraro é uma vinícola familiar, que começou com o objetivo de produzir vinhos que expressassem identidade e território . A empresa decidiu apostar no poder da uva e (pasmem!) não utiliza madeira na elaboração de seus rótulos. “Decidimos trabalhar com uvas de alta qualidade, afinal, o segredo dos grandes vinhos está nesta matéria-prima. Para isso, investimos em vinhedos próprios”, disse Mônica, que afirmou, ainda, que a valorização da matéria-prima também possui o intuito de evitar correções enológicas.
Encruzilhada do Sul (RS), onde a empresa produz grande parte de seus vinhos, é uma das melhores regiões do mundo para a viticultura. Possui clima continental, com amplitude térmica que não ultrapassa os 35ºC, ou seja, condições perfeitas para a produção do vinho. Para Mônica, felizmente a “moda” da madeira nos vinhos já é coisa do passado. “O paladar do consumidor evoluiu e hoje em dia está em busca de vinhos com alma, sem aditivos. Por isso, só incluímos o SO2 antes do engarrafamento. Zero Madeira. O que importa é a qualidade e a expressão da uva”, destacou a enóloga. Esses são alguns dos conceitos que norteiam todos os rótulos da empresa, além da alta qualidade e produção limitada.
RÓTULOS DEGUSTADOS
Faces Brut Rosé: Com selo dos Jogos Olímpicos 2016, 100% Pinot Noir, esse espumante possui coloração Salmão, inspirada na Provence. Produzido em tanques de aço inox de temperatura controlada (método Charmat), o vinho conta com 8 g/l de açúcar, ou seja, o limite entre a classificação Brut e Extra-Brut. Redondo, frutado e agradável, combina com diversos pratos e estilos de paladar.
Dádivas Chardonnay 2014: de coloração amarelo claro, com reflexos dourados, o vinho demorou um pouco a abrir, mas nos brindou com aromas de maçã verde, pera, abacaxi e um fundo de mel. Muito fresco, conta, ainda, com toque mineral.
Agnus Malbec 2014: um vinho que, em minha opinião, não fica devendo nada aos Malbecs argentinos. Vermelho-Rubi com reflexos violáceos, libera aromas de ameixa, amora e violetas. Redondo, com taninos macios, foi uma boa abertura para os demais tintos que estavam por vir.
Maia (2014): o rótulo deste vinho é um charme. Um bigodão, lindo! O vinho é um corte de Merlot e Ancellotta.
Coletânea (2008): Com selo das olimpíadas Rio 2016, o vinho é um corte de 5 uvas (Tempranillo 60%, Cabernet Suavignon 15%, Alicante 15%, Merlot 5% e Cabernet Franc 5%). Cereja, café, ameixa, couro, avelã, tabaco, alcaçuz e chocolate. Muito bom!
Singular Teroldego (2010): Nunca havia provado um vinho com esta casta e gostei muito. De coloração rubi intensa, possui aroma de frutas negras maduras e especiarias.
Singular Nebbiolo (2011): Estávamos comentando durante a degustação que esse é um verdadeiro “Barolo” brasileiro. Frutas silvestres, como pitanga e cereja e compota. Retrogosto persistente e taninos maduros e redondos. Um espetáculo!
Lidio Carraro Tannat (2008): Sem dúvida, o ponto alto da noite ficou para o final. Considerado um dos melhores tannats do Brasil, quiçá do mundo, foi uma ótima surpresa sobretudo para mim, que não tenho a tannat entre as minhas castas favoritas. Ameixa, mirtilo, café, chocolate… Tudo isso sem passagem por madeira. Sem dúvida, uma obra prima.
Outra coisa que a Mônica falou e achei super interessante é que na Lidio Carraro não há pirâmide de produção, ou seja, a segmentação dos vinhos é horizontal. Cada linha possui características particulares para o que se propõe. Porém, sobretudo para o meu paladar, alguns vinhos me emocionaram mais que outros, certamente em virtude destes aspectos.
Enfim, espero que vocês tenham sentido um pouquinho do que foi o evento, mesmo que virtualmente. Em pleno Dia do Amigo, conheci gente nova em torno da nossa bebida favorita. Ou seja, tudo de bom!
Boa quinta! Tim-Tim!