Diga-me… ao girar o vinho na taça, você o faz de forma charmosa ou desajeitada? Na ABS-RJ, na aula do professor Euclides Penedo Borges, antes de degustar o vinho, a instrução é: “Agora, gire a taça sem derramar o vinho na roupa”. Sim, porque algumas pessoas agitam o líquido com tanta vontade, que é desastre na certa!
O ato de girar a bebida antes de degustá-la já se tornou um clássico no mundo do vinho. No documentário Somm (disponível no Netflix), vemos os candidatos a Master Sommelier rodopiando suas taças feito loucos, tentando captar cada aroma, ao passo que até o mais básico dos cursinhos envolve essa manobra como ponto-chave para se decifrar um bom fermentado.
OS PROFISSIONAIS
No dia a dia provavelmente você já deve ter topado com os “rodopiadores de vinhos profissionais”. Eles estão em grupos de degustação de vinhos, confrarias ou turistando nas vinícolas. São aqueles, que muitas vezes são considerados enochatos por quem não entende do assunto…
Então, girar ou não girar? Eis a questão! A resposta está no espírito de apreciar o vinho sem pretensão. Não há regras, apenas diretrizes. É quase impossível girar uma taça de vinho e obter prazer em cada gole. Mas, acredite, esse turbilhão tem suas vantagens.
UMA EXPERIÊNCIA SENSORIAL INTENSA
Era uma vez um vinho jovem ou amadurecido, que vivia aprisionado em um ambiente fechado, interagindo consigo mesmo. Até que você saca a rolha e pronto! O oxigênio passa a circular por aquela garrafa e o líquido vai se modificando. Experimente cortar uma maçã e deixá-la ao ar livre por algumas horas. Após esse tempo você vai notar o aparecimento de manchas marrons. Isso se dá pela ação do oxigênio, que começa a decompor a fruta. O mesmo acontece com o vinho. Estamos desfrutando de um produto que está sendo decomposto continuamente pela natureza. Uau! Intenso isso, não? Mas a beleza deste caminho de destruição reside em todos os maravilhosos aromas e texturas que se absorve de um vinho até que ele se degrade por completo. Sensacional!
OXIGÊNIO: NOSSO AMIGO E INIMIGO DO VINHO
O oxigênio contribui para a vinificação, assim como durante o processo de envelhecimento, mas isso é para nosso próprio benefício e não para o do vinho. Então, quando você derrama o líquido em um Decanter, a fim de colocá-lo em contato com o oxigênio, ao mesmo tempo em que acelera a sua decomposição, nos permite respirar todos esse maravilhosos aromas liberados pela bebida.
O ato de não girar o vinho na taça, apenas retarda um pouco esse processo. Portanto, quando agitamos o líquido, o oxigênio passa a trilhar seu caminho mais rapidamente, enveredando-se por todos os materiais orgânicos denominados fenóis. Enquanto isso, o álcool está evaporando e trazendo consigo todos os aromas, indo direto para o seu nariz, fazendo com que você diga coisas como “pedra de isqueiro” ou “framboesa”.
RELAXE E DESFRUTE
Está vendo a vantagem disso? É como se a natureza lhe dissesse, “Me agite um pouquinho que eu mostro tudo o que posso fazer”. É como uma espécie de diálogo entre você e aquele líquido cheio de história.
Mas, e daí se você acha que faz isso de forma sexy ou desajeitada? Problema nenhum. Vale é que para tirar proveito deste simples ato, não importa a forma como gira o vinho. Com o tempo e o costume, é possível que você comece, inclusive, a agitar sua taça de água (assim como eu! ahahaha). Será como um pequeno ritual, um código que só diz respeito a você e àquele líquido tão precioso.
Até a próxima, enoamigos! Tim-Tim!
Referências: VinePair, Wine Folly, The Journal.ie
Republicou isso em Vila Viníferae comentado:
Sim, girar o vinho é uma arte!
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