5 Uvas Que Se Adaptaram Superbem Ao Novo Mundo

Pois é, meu amigo, chegou a hora de abrir os horizontes e deixar que sua taça viaje por novos lugares. E é por isso que hoje a série “Descobrindo Novos Sabores” desembarca nas regiões vinícolas da América do Sul, palco de castas emblemáticas e de bastante personalidade.

Bora conhecer melhor essas uvas maravilhosas? Então, vem comigo!

MALBEC

É ela, a queridinha da Argentina e uma das cepas sul-americanas mais famosas do mundo. Sim, há uns 20 anos atrás ninguém bebia Malbec, nem os franceses (pelo menos em quantidade). Mas, desde de seu boom na Argentina, todo mundo voltou a se encantar por seus vinhos, inclusive os franceses. Prepare-se pois sua taça está prestes a mergulhar em uma grande variedade desta uva.

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Malbec

Vejamos algumas delas:

Malbec de Vinhas Velhas (Viñas Viejas)

Algumas empresas comercializam Malbecs de vinhas de 30, 40 anos. Porém, um bom e velho vinho desta casta, em alguns casos,  pode provir de  vinhedos com 100 anos de idade. A Malbec chegou ao nosso continente há cerca de 150 anos e é provável que tenha sido plantada primeiro no sul do Chile, próximo à cidade portuária de Concepción. É nessa área que encontramos as videiras com mais de 100 anos de idade, que resultam em vinhos florais, selvagens, frescos, com taninos sedosos e bem mais fáceis de lidar que os argentinos que todos nós conhecemos bem. Esses vinhos geralmente são elaborados juntamente com outras castas de velhas vinhas locais.

Além do sul do Chile, na Argentina (Mendoza) é possível encontrar vinhas de mais de 80 anos de idade, capaz de produzirem vinhos extremamente equilibrados.

Regiões-Chave: Argentina – Maipu, Lujan de Cuyo; Chile – Itata (San Rosendo), Maule, Bio Bio.

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Mapa Vinícola da Argentina

Malbec Frutada Para o Dia a Dia

A Malbec Argentina tomou conta das prateleiras dos supermercados – e com toda a razão – afinal, ela é capaz oferecer um vinho exuberante, concentrado e de ótimo custo-benefício, sobretudo para nós, brasileiros. Prepare-se para se deparar com exemplares frutados, com sabor de ameixa, frutas negras e um pouco de estrutura de envelhecimento em carvalho, oriundos dos vales mais quentes não só da Argentina como também do Chile.

Regiões-Chave: Argentina – Lujan de Cuyo, Maipu, Neuquen, San Juan; Chile – Colchagua, Cachapoal

Vinhos Malbec TOP do Vale do Uco

Muitos dos rótulos mais tops de Malbec provém do Vale do Uco, na Argentina. Após mais de uma década de estudos intensos do solo e experiências de amadurecimento (tanto em cimento quanto em carvalho), alguns produtores ganharam a chancela de excelência em Malbec, sendo bastante prestigiados em todo o mundo. São vinhos elegantes, com notas de ervas e violetas.

Regiões-Chave: Gualtallary, Paraje Altamira, Vista Flores (dentro do Vale do Uco)

 CARMÈNÉRE

Outra variedade importada da França é a Carmènére, que fez do Chile a sua segunda casa e onde atualmente é amplamente cultivada. A adoção da variedade pelos chilenos não foi intencional e sim acidental. Tudo porque suas mudas foram trazidas erroneamente como Merlot e cresceram em todo o país como tal, até que  em 1994 Jean Michel Boursiquot descobriu que, na verdade, se tratava da Carmènére, casta que acreditava-se ter sido extinta pela filoxera, praga que dizimou boa parte dos vinhedos europeus do final do século XIX até o início do século XX.

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Carmènére

FATO: Hoje em dia o Chile é responsável por 98% de toda a produção de Carmènére do Mundo

Sem dúvida, a Carmènére é uma das minhas castas favoritas, sobretudo porque seus vinhos são fáceis de beber e perfeitos para um bate-papo sem hora para terminar (neste caso, separe mais de uma garrafa…rs). Seus rótulos costumam ser frescos, frutados e com notas vegetais de pimenta e especiarias. Combinam superbem com costela na brasa e  iguarias da culinária árabe, por exemplo. Seus estilos variam do encorpado, devido ao envelhecimento em carvalho, até versões mais frescas, com notas de pimenta, ervas e pimentão.

Regiões-Chave: Colchagua (Apalta), Alto Cachapoal, Aconcágua, Maipo.

PAÍS (Criolla, Mission)

Uma das primeiras uvas plantadas nas Américas, a País (Criolla, na Argentina, e Mission, nos EUA) já foi a variedade de uva mais plantada na América do Sul até a revolução vinícola francesa, no século XX, quando as vinhas velhas da casta acabaram condenadas a vinhos de mesa baratos ou, em grande parte, abandonadas. Nos últimos anos, no entanto, enólogos do Chile redescobriram a País e estão criando alguns vinhos interessantes com suas videiras centenárias.

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País

País Pipeño (Estilo Rústico)

No coração do renascimento da País, houve um revival das técnicas ancestrais que os descolados do mundo do vinho chama de “vinificação natural”. Com uma intervenção mínima na cantina (ou, muitas vezes, garagem), esses vinhos, orgânicos e provenientes de vinhas velhas, são de produção limitada e vendidos por pequenos comerciantes de bebidas naturais. Com aromas terrosos e surpreendentes, o País Pipeño muitas vezes possui sabores de frutas rústicas com notas florais.

Regiões-Chave: Itata, Maule, Bio Bio. 

MAPA CHILE

 

País Moderna (Estilo Beaujolais) 

Com base no estilo Beaujolais Noveau, os modernos vinhos da casta País utilizam a maceração carbônica para capturar sabores de frutas secas e acabamento leve. É o exemplar perfeito para se beber geladinho à beira da piscina. Na mesma linha, temos os espumantes rosé da casta. Produzidos pelo método tradicional champenoise,  esses vinhos contam com um leve sabor frutado.

Regiões-Chave: Secano Interior, Itata, Maule, Bio Bio.

BONARDA (Charbono, Corbeau, Douce Noir)

Se a País já foi a casta mais plantada no Chile, o equivalente na Argentina com certeza é a Bonarda. Antes do boom da Malbec, a Bonarda foi a uva tinta e sofreu um tratamento histórico semelhante ao da País, tendo sido rebaixada a vinho de mesa e abandonada, uma vez que saiu de moda. Pois é, a Bonarda está de volta. Vale destacar que a Bonarda da Argentina é diferente da cultivada na Itália e também é conhecida como Charbono, Corbeau ou Douce Noir.

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Bonarda

Bonarda Tradicional

Essa espécie de “irmã mais nova” da Malbec foi, muitas vezes, vista como uma substituta para ela, tanto que ambas são vinificadas da mesma forma. No entanto, os vinhos tradicionais da Bonarda são mais frutados, típicos de regiões mais quentes.

Regiões-Chave: San Juan, La Rioja, San Rafael, Rivadavia.

Bonarda no Estilo Fresco (Glamour)

Produzidas em um período de maceração mais curto e um pouco carbônico, este novo estilo de Bonarda é mais leve e frutado. Os leves espumantes rosés desta linha também valem a pena ser degustados.

Regiões-Chave: Lujan de Cuyo (the sub-regions of Vistalba and Ugarteche), Tupungato.

Bonarda no Estilo Top 

Nos últimos anos foram introduzidas novas plantações de Bonarda no Planalto do Vale do Uco, na Argentina, comprovando toda uma seriedade e comprometimento por parte dos enólogos no que diz respeito a essa variedadeComo expressam todo o potencial de qualidade da Bonarda, os vinhos nesse estilo não são baratos. Afinal, são “vinhos-top”. A maioria não usa carvalho e amadurecem seus vinhos em ovos de cimento, resultando num Bonarda elegante, repleto de finesse, frutas e aromas florais.

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Vinho sendo produzido em Ovo de Cimento

Regiões-Chave: Vale do Uco.

TORRONTÉS (Torrontés Riojano, Torrontés Sanjuanino, Torrontés Mendocino)

Se a Malbec é a queridinha da Argentina, a Torrontés, sem dúvida, é a Rainha! Trata-se da única casta de uva realmente nativa da América do Sul. Com as qualidades da Muscat, é um cruzamento da Criolla (País) com a Muscat de Alejandra, que surgiu pela primeira vez no norte da Argentina. Há três variações de Torrontés: San Juanino, Mendocino e Riojano, sendo esta última a de maior qualidade e cultivada em todo o país. As melhores expressões da Torrontés são encontradas em altitudes elevadas, geralmente em Cafayate (região próxima a Salta), embora novas plantações no Vale do Uco (Mendoza) também sejam bastante promissoras.

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Torrontés

Uma “bomba perfumada”, assim é a Torrontés. Ao mesmo tempo, também é conhecida como a casta “mentirosa”, visto que no nariz parece ser demasiado frutada, floral e adocicada, mas na boca é totalmente o oposto disso – seco e ocasionalmente um pouquinho amargo. Se você prefere uma versão mais doce, aposte em um exemplar de Colheita Tardia (Late Harvest). O Torrontés, quando bem feito, é quase que o equivalente vínico do gin-tônico. Surpreende qualquer paladar!

Regiões-Chave: Salta (Cafayate), La Rioja, Uco Valley.

Espero que tenham gostado dessa nossa viagem em companhia das castas que mais simbolizam a América do Sul. Quer exercitar ao vivo em cores? Então, que tal provar um desses exemplares com os amigos e descobrir novos sabores?

Boa semana e ótimos vinhos! Tim-Tim!

Referências: Wine Folly, Wikipedia, Academia do Vinho

3 comentários

    • Olá! Quero fazer um post exclusivo sobre a Tannat, pois é uma variedade que gera curiosidade em muita gente e que está começando a se popularizar mais por aqui, inclusive entre vinícolas brasileiras que produzem vinhos desta casta.

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