Durante minha caminhada no mundo do vinho, acredito que já devo ter degustado uma centena de rótulos, muitos dos quais eu não me lembraria se não fossem minhas notas de degustação.
Sim, elas são fundamentais para enófilos e profissionais da área, a fim de que possam montar um arquivo, uma memória sensorial que será de suma importância quando se tem a intenção de prestar consultoria, sugerir combinações entre vinho e comida, entre outras atribuições.
Graças ao meu grupo da ABS-RJ, tenho aprendido a otimizar bastante as minhas notas de degustação, ao passo que são fornecidas fichas técnicas, próprias para que possamos documentar nossas impressões sobre os vinhos apresentados. Trata-se de uma ferramenta que traz praticidade à avaliação, tornando-a o mais objetiva possível.
COMO POSSO ESCREVER ÓTIMAS NOTAS DE DEGUSTAÇÃO?
Se você deseja realizar notas de degustações úteis e precisas e nunca tentou na prática, anote essas dicas e prepare-se para mandar superbem na hora de avaliar seus vinhos.
Como identificar e listar os aromas e sabores de um vinho
Antes de tudo, é importante saber identificar a origem dos aromas do nosso néctar, a fim de que possamos senti-los com mais clareza.
- Aromas Primários: é aquele proveniente das uvas e do terroir e geralmente são pautados em frutas, flores e ervas.
- Aromas Secundários: são aqueles oriundos do processo de vinificação. Os aromas secundários incluem (mas não estão limitados a) notas de pão fresco (devido às leveduras), assim como creme de leite e iogurte (próprios da fermentação malolática).
- Aromas Terciários: são aqueles que surgem durante o envelhecimento da bebida, seja em carvalho ou na própria garrafa. A partir daí, podemos identificar cravo, especiarias, torrefação, coco, fumaça, café, baunilha, couro, pelica, entre outros.
Enfim, saber identificar esses diferentes aromas (ou bouquets, no caso dos vinhos de guarda), vai te ajudar a escrever notas de degustação cada vez melhores.
DICA: Quando você for realizar a avaliação olfativa, tente listar as notas mais óbvias em primeiro lugar. Isso ajuda a criar uma hierarquia de importância.
Ou seja, o que você mencionar em primeiro lugar é mais importante. Por exemplo, “Framboesa e Pimenta” soa mais frutado que “Pimenta e Framboesa”, o que quer dizer que o vinho é mais rico em aromas de frutas que de especiarias.
Além disso, vale tentar incluir um adjetivo em suas notas. É “Pimenta Fresca” ou “Pimenta Seca”? É “Framboesa Fresca” ou “Framboesa em Compota”? Essas especificidades vão ajudá-lo a aprimorar os detalhes sobre determinado vinho.
Outra: não tenha medo de escrever algo que possa soar meio bobo. Afinal, essas anotações, a princípio, são só para você.
Como descrever tanino, acidez e corpo
- Corpo: quando você se concentrar no sabor, é importante atentar-se para a forma como você sente o vinho na boca. E, em se tratando de corpo,há algumas analogias que podem ajudar. Por exemplo, “é como Leite Desnatado, mais ralo, escorregadio” ou “como um Leite Integral, mais encorpado ou espesso”? O corpo, no vinho, geralmente corresponde a algo aproximado dessas texturas. Qual é a que predomina? Anote-a!
- Taninos: para muita gente pode parecer complicado, mas é aquela sensação de cica da fruta, tal como a da maçã ou banana verde. Para saber se um vinho é mais ou menos tânico, antes de beber, encoste a língua no céu da boca e faça o mesmo após ingerir a bebida. Perceba se o local está mais áspero e a boca demasiado seca. Se a resposta for positiva, é provável que o vinho seja rico em taninos.
- Acidez: costumo dizer que a graça do vinho está na acidez. Um vinho de acidez elevada provavelmente provoca uma sensação semelhante a de um limão ou lima. Por isso, geralmente os exemplares brancos são ricos em acidez. Quanto mais ácido um vinho, mais brilhante ele será (por isso, atente-se bastante ao exame visual). Já um vinho pouco ácido atua na boca como uma melancia, por exemplo.
DESCREVENDO O FINAL
Já reparou que quando você prova um rótulo fica meio difícil de dizer logo de cara se realmente gostou dele? Então… é que costuma levar 1 segundo para que se tenha uma primeira impressão sobre o vinho. Aí, você está esperando sobre o final.
Geralmente, esse “encerramento” se dá a partir do momento em que o sabor se dissipa, “vai embora da boca”. O final é, muitas vezes, o momento crucial de definição de um vinho, quando você decreta sua opinião definitiva sobre ele. Aquela hora em que você pensa em palavras como “monótono” ou “espetacular”.
A seguir, confira uma listinha básica com alguns “finais” de um vinho. Trata-se de uma sugestão, para você ter em mente numa próxima degustação.
- Final Suave, Elegante: é aquele momento em que a maioria dos enófilos decreta um “Ahhhhhh….”. Enquanto o vinho pode se apresentar completamente seco, o final traz aquele toque de finesse onde, nos tintos, os taninos costumam ser sedosos, apesar de presentes. Já em um branco, será aquela textura cremosa, que enche a boca.
- Final Amargo: é o tal do retrogosto amargo, que tantos falam. Esse estilo tem lá seus apreciadores. Não é o meu caso. Quando ocorre, geralmente os vinhos possuem grande acidez e notas cítricas.
- Final Fresco e Suculento: geralmente qualifica aquele vinho que possui notas de ataque de frutas maduras e quase sempre é detectado em vinhos jovens, provenientes de climas moderados. Essas notas suculentas costumam ser associadas a exemplares recém-produzidos.
Como sempre digo por aqui, vinho é um aprendizado contínuo. Mas, para os apaixonados, é extremamente prazeroso. E, acreditem, quando provo um vinho novo, quase sempre me surpreendo.
Quanto à capacidade de decifrar os aromas, digo que é tudo muito particular. Depende das vivências e experiências de cada um. Por isso, não tenha vergonha de cheirar as frutas e temperos na feira e no supermercado, por exemplo. Tudo serve como bagagem para futuras degustações.
Boa terça! Ótimos vinhos! Tim-Tim!
Referência: Wine Folly