(Chile): Viña Santa Carolina Como Você Nunca Viu

Voltei para falar mais um pouquinho sobre as minhas andanças pelo Chile. E, sem dúvida, muita coisa aconteceu como planejado e, outras, nem tanto. Para começar, muitos amigos e conhecidos diziam que eu “TINHA” que visitar a Concha Y Toro.

E, em se tratando da maior vinícola da América Latina, é claro que a gente já chega meio sugestionada. Porém, ao mesmo tempo, havia aquelas pessoas que me diziam que, na minha condição de estudiosa do mundo do vinho, eu “NÃO DEVERIA” visitar a CyT, sobretudo por se tratar de uma vinícola enorme, industrial, turística e comercial.

UMA REVELAÇÃO: VISITAR A SANTA CAROLINA!

Pensei muito e decidi não ir, ainda mais depois do tour personalizado que tive na Haras de Pirque. Não fazia o menor sentido. No dia anterior, no Vinolia, eu tinha feito amizade com uma Sommelier do Bocanariz, um Wine Bar superdescolado. E ela me disse o mesmo que os meus amigos do vinho, mas com um adendo: “Vale mais a pena você visitar a Santa Carolina”. “Não tem vinhas na vinícola”, ela disse. “Mas é muito bonita e o atendimento é ótimo!”

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A partir daí, não tive mais dúvidas: agendei o tour por e-mail e fui feliz. Dessa vez, fiz a visita sozinha, pois o marido e a filhota preferiram curtir o belo jardim, com espaço de sobra para a pequena correr e brincar muito.

O meu tour estava agendado para às 15h. Como a vinícola fica bem pertinho da região metropolitana de Santiago, cheguei um pouco adiantada e aguardei numa salinha de espera bem confortável. Havia um casal de brasileiros comigo, acho que eles estavam em lua-de-mel. Resultado: mais um tour privado, personalizado, só que desta vez só para mim e o casalzinho.

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A vinícola Santa Carolina é uma das mais conhecidas aqui  no Brasil e creio que tenha sido uma das primeiras a trazer os vinhos para cá, logo que começou esse “Boom” de Mercosul e vinhos chilenos mais em conta, ainda nos anos 90. Inclusive, me lembrei de um fato curioso: o primeiro Merlot que degustei foi um Santa Carolina Reservado (Varietal), há muitos e muitos anos atrás, nem me lembro quando foi. Não tenho vergonha de dizer que foi com um rótulo Reservado, pois esse tipo de vinho é o mais comum de ser encontrado e, certamente, é uma porta de entrada para rótulos mais complexos e elaborados. Ou seja, a partir dele é que muitas pessoas passam a se interessar por vinhos. 

UM TOUR HISTÓRICO

Chegou a hora do tour e fomos recepcionados por Gabriela Dobre, brasileira, paulista e muito simpática! Ela nos contou vários fatos interessantes sobre a história da vinícola em cada ambiente que nos levava. E, em determinadas etapas, degustávamos um dos maravilhosos rótulos da vinícola. Aí eu já detectei um primeiro diferencial: a degustação não é realizada no final do tour e, sim, ao longo dele. Muito bacana! A gente se envolve ainda mais com tudo o que está sendo apresentado.

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No quadro, a Carolina, esposa de Luis Pereyra e que deu origem ao nome da vinícola.

Quem me conhece sabe que adoro história. Acho que, se não fosse Sommelier e Jornalista, certamente eu seria historiadora, pois é mais uma das minhas paixões. E um dos destaques desse tour é toda a carga histórica envolvida. Tudo começou com um homem visionário, Don Luis Pereyra, que, em 1875 fundou a vinícola em homenagem a sua esposa, Carolina Iñiguez. Desde o início, ele se preocupou em elaborar vinhos da mais alta qualidade, tanto que trouxe da França o prestigiado enólogo Germain Bachelet.

UM BELO JARDIM  E UMA PALMEIRA CENTENÁRIA 

Sem dúvida, a área externa da Santa Carolina impressiona, sobretudo pelo belo casarão e seu entorno, um jardim super bem-cuidado e a vista para a Cordilheira dos Andes. Logo de cara fiquei com vontade pintar aquele cenário. Muito lindo!

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O tour começou em uma sala de reuniões com móveis, quadros e ambiente do século XIX, tudo muito lindo e digno de qualquer museu. Me chamou muito a atenção o fato de que a atual família proprietária fez questão de manter toda a história que ronda a Santa Carolina. Afinal, trata-se de um belo legado. Nesta sala, nos foi servido um Sauvignon Blanc Reserva como primeiro vinho da degustação. Cada um com sua tacinha em mãos e o tour continuava…

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Copihue: nativa do Chile e ameaçada de extinção.

Em seguida, a Gabriela nos levou em uma espécie de pátio, muito comum nas casas dessa época, inclusive em algumas fazendas centenárias aqui no Brasil mesmo. Acontece que, no centro desses pátios, geralmente é possível ver uma estátua ou uma fonte. Porém, não na Santa Carolina. Lá no centro havia nada mais nada menos que uma Palmeira Imperial enorme, com muitos anos de idade.

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Sauvignon Blanc em harmonia com a natureza.

O fato curioso é que a majestosa palmeira foi plantada pelo próprio Luis Pereyra. Aliás, tudo no jardim remete ao Chile, com destaque para outra palmeira, a palma chilena, encontrada em vários lugares do país. Há, inclusive, um mel extraído dela (Mel de Palma), muito usado nas sobremesas locais. Me chamou a atenção, ainda, a Copihue, uma flor nativa que, atualmente, se encontra em extinção, inclusive, a Gabriela contou para a gente que regularmente o local é visitado por técnicos, com o intuito de acompanhar o desenvolvimento e os cuidados com as flores.

O INTERIOR DA VINÍCOLA SANTA CAROLINA

Antes de tudo, Gabriela nos explicou o porquê do local não possuir mais vinhas em seu entorno. Tudo porque a cidade de Santiago foi crescendo e se desenvolvendo e, de repente, a vinícola, antes situada numa zona rural, se transformou em parte integrante de uma área urbana. Com isso, a decisão mais sensata foi a de transportar as videiras para o Maipo, entre outras regiões, essencialmente vinícolas. O casarão, por sua vez, permaneceu como um belo patrimônio histórico e cultural em meio à capital chilena.

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O ótimo tour é comendado pela guia brasileira Gabriela Dobre: a menina sabe muito!

O tour continuou e Gabriela nos mostrou algumas barricas enormes, que eram usadas para fermentar o vinho. Hoje em dia, elas são apenas objetos de decoração que enriquecem ainda mais a arquitetura do lugar, que tem ripas de barricas revestindo o chão e tijolinhos nas paredes. Toda a área antes destinada à fabricação do vinho, um espaço enorme, com vários ambientes, atualmente funciona como salão de eventos, com destaque para grandes festas de casamento. Aliás, deve ser o máximo casar naqueles salões históricos de uma antiga vinícola. Chique demais!

Durante a visita aos salões, nos foi servido um vinho moderno e que representa mais um dos novos estilos da Santa Carolina. Trata-se de um Gran Reserva 100% Petit Verdot. Um vinho elegante, interessante e que te faz pensar em várias delícias para harmonizar. 

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UM RESERVA DE FAMÍLIA MUNDIALMENTE PREMIADO

Enfim, fomos direcionados às caves subterrâneas. Lugar silencioso, temperatura perfeita, meia-luz, muito bonita!  Essa cave é considerada Monumento Nacional pelo Governo do Chile, tamanha a sua importância. No fim do corredor com as barricas, lá estava ele, o local onde descansavam os barris com os vinhos elaborados para o consumo da família de Luis Pereyra.

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Na mesa, estava um dos meus vinhos favoritos da Santa Carolina, o Reserva de Família Cabernet Sauvignon, praticamente o mesmo vinho que foi premiado com a medalha de ouro na “Exposição Universal” de Paris, na França, em 1889, ano de inauguração da Torre Eiffel. 

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O corredor que dá acesso à cave onde descansavam os barris “Reserva de Família”.

Trata-se de um grande orgulho para todos na vinícola, tanto que o certificado original da premiação continua lá, na parede, dentro da cave, cujos portões são adornados com um enorme LP, de Luis Pereyra.

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Emocionante! Degustei o vinho e, naquele momento, a Santa Carolina me conquistou de vez, me apaixonei pela história da empresa. 

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A Cave subterrânea foi declarada Monumento Nacional pelo Governo do Chile

O FIM DO TOUR

Após o tour memorável, fomos levados para a lojinha da vinícola, onde é possível adquirir o rótulo e outros souvenirs. Lembrando que cada visitante recebeu uma bolsinha fofa com uma meia-garrafa de Santa Carolina Reserva Cabernet Sauvignon. Sem dúvida, uma delicada gentileza. Ah, e eu ainda ganhei da Gabriela um mapa com todas as regiões vinícolas chilenas, para eu aprimorar meus conhecimentos.

Na loja, também estão à venda alguns dos rótulos carros-chefe da Santa Carolina por taça, através dessa maquininha que é o meu sonho de consumo..rs.rs..rs. Ou seja, se você leu o meu relato até aqui já deve ter percebido que saí de lá completamente encantada e recomendo sim, a visita, sobretudo para quem deseja um tour mais tranquilo.

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Quem não queria ter uma dessa em casa? Conserva os vinhos por até 21 dias. Ótima para servir taças.

HISTÓRICO DA VINÍCOLA

A Santa Carolina faz parte da Carolina Wine Brands, um dos principais grupos vitivinícolas do Chile. Atualmente, pertence ao grupo industrial Watt’s S.A, propriedade da família Larraín. Com mais de 135 anos de história, ela é uma das vinícolas mais antigas do Chile.

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Com forte presença em nível mundial, a Carolina Wine Brands tem entre seus principais mercados o Canadá, Brasil, Japão, Chile, México, China e Estados Unidos. Nos últimos 3 anos, a bodega chegou a alcançar a marca de vendas de 25 milhões de garrafas, o que prova que o negócio cresce a cada dia.

Sim, o portfólio da vinícola é enorme e conta com rótulos ótimos em todas as faixas de preço. Muitos deles eu já tinha ouvido falar e não tinha ideia de que faziam parte da Carolina Wine Brands.

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Em 2015, a Santa Carolina completou 140 anos e foi eleita como Melhor Viña do Novo Mundo pela prestigiada revista americana Wine Enthusiast


Então é isso, viníferos, com a Santa Carolina termino minha maratona de vinícolas pelo Chile. E com uma pequena de 3 aninhos junto, podes crer, foi um tremendo desafio. Porém, a minha vontade era de ter visitado umas dez, no mínimo, mas como a viagem não era só minha, acabei aproveitando também de outras formas.

Quer visitar a Santa Carolina? Aqui você tem mais informações sobre os vários tipos de tour, inclusive com valores e contato.

Até o próximo Wine Tour. Ótimos vinhos! E viva o Chile! Tim-Tim!

 

 

 

6 Comments

  1. Olá Sabrina. Eu conheci a Santa Carolina há uns anos atrás e, devido a um dos terremotos que abalaram o Chile, ela estava recém reabrindo para visitações. Foi muito bom ler seu post e relembrar a minha ida até lá e os locais visitados, conforme lia seu post e fotos. Abraços

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  2. Também gostei do tour na Santa Carolina e adorei o Petit Verdot. Até então só havia experimentado esta casta em assemblages.
    A Gabriela é super gente fina e atenciosa.
    Das 4 vinícolas que visitei, poderia classificar assim:
    1a. Santa Rita (tour privativo)
    2a. Santa Carolina (tour 7 pessoas)
    3a. Cousiño Macul (tour 10 pessoas)
    4a. Concha Y Toro (essa eu não perderia nada se “pulasse” e nem te falo quantas pessoas tinham no tour, antes tivesse ido na Undurraga, Indomita ou Emiliana).

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    1. Olá, Hugo! Muito obrigada por seu comentário. Ótimo para ajudar outras pessoas com dicas.
      Pois é, não tenho arrependimento por não ter ido à Concha Y Toro justamente por comentários como o seu.
      Que bom que curtiu a visita! Me surpreendi mesmo, a Santa Carolina é muito bacana!
      Abraço,
      Sabrina

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