O Sommelier que Sabia D+

Contos & crônicas do Sommelier André Ribeiro no episódio de hoje:

O Sommelier Que Sabia D+

Jack Maier se formou como Sommelier aos 20 anos, seu pai era dono de uma pequena loja de vinhos que veio a falir pouco tempo depois dele ter se formado Sommelier. Seu pai já estava velho e doente, então ele teve que arrumar trabalho para sustentar os pais; ele era uma rapaz muito estudioso e passava todo o tempo de folga fazendo pesquisas, lendo livros, degustando novos vinhos.

Seu método de estudo era fantástico: escolhia um país e dentro dele uma região, por exemplo, país Itália – região Sicília, comprava o vinho com seus próprios recursos, lia tudo sobre o lugar e, ao final, como recompensa, bebia o vinho vendo vídeos ou fotos do local. Era como se ele viajasse até lá sem sair do lugar, por isso, ele fixava bem o conhecimento.

Quando ele divagava sobre uma região, era muito comum os clientes perguntarem se ele havia viajado para lá, ao que ele respondia “só nos meus devaneios”. Eles ficavam encantados com a riqueza de detalhes fornecidos, pois ele tinha uma ótima desenvoltura, falava super bem, dominava vários assuntos. Os clientes o adoravam, era super sincero e destacava-se entre os seus colegas de profissão.

Muitos clientes entravam na loja e pediam para ele escolher um vinho, pois Jack tinha o dom de descobrir o gosto de seus clientes assim como um detetive investiga um crime.

Uma vez, a escola em que ele se formou Sommelier resolveu promover um concurso para eleger o melhor Sommelier da cidade, Ribeilândia, situada às margens do Rio Ribeira del Duero, na Espanha. Seus colegas o incentivaram a participar. O concurso estava marcado para 60 dias daquela data, então Jack se enfiou nos livros, treinou técnicas de serviço, armazenou para si o máximo de conhecimentos possíveis.

No dia da escolha, estavam vários Sommeliers reunidos, cerca de 200 candidatos. Então, veio primeiro a prova escrita; aqueles que não tirassem a nota mínima seriam eliminados. Nisso, 150 candidatos foram pelo ralo. Jack ficou em primeiro lugar e Javier em segundo.

Na segunda parte da prova, serviço de mesa, desclassificaram mais uns 30. Teve um Sommelier que deixou um Champagne estourar e bater a rolha no nariz de um dos jurados. Foi hilário! Ele reclamou que havia sido sabotado, que alguém havia chacoalhado o Champagne, pois assim que ele soltou a gaiola a rolha saltou, mas como não haviam provas ficou por isso mesmo. Dos 20 restantes, Jack ficou em segundo e Javier em primeiro.

Na terceira parte, descrição de um vinho com ficha técnica. Era preciso descrever aromas, sabor, retrogosto e cor. Jack arrebentou. Ele era conhecido como nariz de perdigueiro e, pra variar, Javier ficou em segundo.

Na última etapa, harmonização, os jurados escolheram um prato simples: arroz, feijão, bife e batata fritas. Os candidatos foram ouvidos em separado. Primeiro, Jack, que então enfeitou o pavão e descreveu o prato, a sua textura e escolheu um vinho de Bordeaux – O Chateau Margax – para a harmonização, saindo feliz e satisfeito.

Aí foi a vez de Javier. Os jurados passaram o mesmo prato que Jack harmonizou. Javier disse: “esse é um prato do dia a dia, então qualquer vinho Reservado serve, pois ninguém vai comprar um grande vinho para acompanhar bife com batatas fritas. Eu indico o Anya Flor de Frutales Carménère, um vinho chileno que custa 3 euros.” Jack estava do lado de fora, feliz da vida, quando escutou aplausos. Ao entrar na sala, o juízes elegeram Frederico Javier o melhor Sommelier e Jack como o segundo colocado. Ele ganhou um troféu e uma garrafa de vinho.

Jack refletiu a noite inteira pois não conseguiu pegar no sono e entendeu que um profissional não se mede pelo nível de conhecimentos que ele consegue reter e, sim, um conjunto de coisas como ter uma boa imaginação, boa capacidade de raciocínio e, acima de tudo, humildade, paciência e amor naquilo que faz. Cada pessoa é especial em alguma coisa, ou seja, não existe o melhor. Assim é com o vinho. Para elegermos o melhor Cabernet Sauvignon, teríamos que provar todos os vinhos do mundo produzidos com essa uva.

Ele nunca mais participou de nenhum concurso, pois sabia que ninguém pode julgar aquilo que está armazenado no coração.
#pordentrodovinho