Fato que o vinho Carménère é mais um daqueles exemplares que você ou ama ou odeia. Conheço muitos apaixonados pela casta, do tipo que não podem ficar sem ela na adega. Afinal, um bom Carménère é capaz de fazer frente aos mais diversos pratos culinários. E, no que diz respeito à harmonização, sem dúvida, minha preferência fica com a gastronomia árabe. Trata-se de um fermentado que nasceu para acompanhar quibe, kafta, cordeiro, esfirras e afins.
Por outro lado, há aqueles enófilos que são totalmente fechados para a Carménère. Tenho um amigo que diz logo, “aquela uva que eu não gosto”. Pois é, vinho é gosto pessoal e nem sempre é possível agradar a todos. Mas, como tudo na vida, dá para mudar de ideia, não é mesmo?
E foi pensando nisso que hoje trouxe 10 fatos sobre a Carménère que vão te ajudar a tirar o máximo de proveito de cada gole:
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Marque no calendário! O Dia Mundial da Carménère é 24 de novembro!
Em 2018, a Carménère celebrará 20 anos como casta oficialmente reconhecida no Chile. Em 1996, a Viña Carmen foi a primeira Vinícola chilena a lançar um rótulo Carmenérè, mas o fez sob o nome “Grande Vidure”, visto que a variedade ainda não estava inscrita no Ministério da Agricultura. A cepa só foi oficializada no órgão em 1998.
2. A Carménère é conhecida por dar origem a vinhos com nuances de frutas vermelhas e uma nota de Pimentão inconfundível.
A Carménère contém níveis mais altos de compostos aromáticos chamados pirazinas, que dão a vinhos como Carménère, Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon sutis sabores de pimentão, pimenta-verde, eucalipto e até mesmo cacau em pó.
3.Os Vinhos Carménère podem conter até 15% de outras castas.
No Chile, um vinho de uma única variedade pode ter até 15% de outras variedades de uvas misturadas com ela. Junto a Carménère, os enólogos costumam adicionar pequenas porcentagens de Syrah ou Petit Verdot, a fim de tornar o vinho ainda mais exuberante.
Vinhos conhecidos por ter amora, ameixa preta, blueberry (mirtilo) geralmente possuem outras uvas misturadas à casta primária varietal. 100% dos vinhos Carménère geralmente carregam sabores de frutas vermelhas, como framboesa e romã, juntamente com as notas clássicas de páprica e pimentão verde.
4.Os Vinhos Carménère mais bem-classificados envelhecem bem e custam entre 50 e 100 dólares a garrafa.
Os rótulos TOP de Carménère oferecem sabores densos, maduros e poderosos de ameixas, bagas e notas de cacau, juntamente com textura cremosa e taninos finos. Os vinhos mais bem-classificados possuem, no geral, porcentagem alcoólica entre 14,5% e 15%, assemelhando-se facilmente a um Bordeaux fino ou Cabernet Sauvignon (com taninos mais macios).
Confira essa lista com Vinhos Carménère (de alguns dos maiores produtores chilenos), que de forma consistente, superam as listas da Wine Spectator, Wine Enthusiast e Wine Advocate.
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“Herencia”, de Santa Carolina: um rótulo 100% Carménère de Peumo, do Vale de Cachapoal.
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“Alka”, de François Lurton: 100% Carménère do Vale do Colchagua
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“Carmín de Peumo”, de Concha Y Toro: 85% Carménère, misturado com Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, de Peumo, do Vale do Cachapoal.
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“Kai”, de Viña Errazuriz: 95% Carménère e 5% Syrah, do Vale do Aconcágua.
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“Purple Angel”, da Vinícola Montes: 92% Carménère e 8% Petit Verdot, das áreas de Marchigüe e Apalta, no Vale do Colchagua.
Tenha em mente que muitos produtores não chegam a ter seus vinhos classificados. Sendo assim, ainda há muito o que garimpar por aí.
5.Os Rótulos Carménère mais ousados vêm de Cachapoal e Vale do Colchagua.
A Carménère é conhecida por produzir exemplares mais ousados dos vales do Cachapoal e Colchagua. Essas duas 2 sub-regiões mais famosas dentro desses vales são Apalta e Peumo, em Colchagua e Cachapoal, respectivamente. Os vinhos elaborados com uvas de ambos os vales misturadas são geralmente rotulados como Vale do Rapel.
6.Carménère supercombina com pratos à base de carne de porco assada e cordeiro com hortelã.
Os taninos mais leves e maior acidez do vinho Carménère faz dele uma bebida versátil para harmonizar com a comida. Fica perfeito com carnes magras grelhadas, com molhos como o Chimichurri (à base de coentro), salsinha, hortelã ou pesto de salsa, que combinam muito com as notas vegetais do vinho, tornando-o mais frutado. O Carménère também faz bonito ao lado de carnes brancas escuras, como Peru e Pato.
7.Carménère está quase extinta em sua terra natal. No entanto, é a 5ª casta mais importante do Chile.
A Carménère é originária da região de Boedeaux, na França. Antes de 1870, a Carménère era uma mistura predominante de uvas em Bordeaux, encontrada sobretudo em Graves, com a denominação de Pessac-Léognan.
No entanto, devido a infestação da Filoxera, quase todas as vinhas da casta Carménère – junto com a maioria dos vinhedos em Bordeaux- foram dizimadas. Quando os vignerons de Bordeaux replantaram as cepas, optaram pelas mais adaptáveis ao terroir, como Cabernet Sauvignon e Merlot. Por isso, a Carménère, na França, está praticamente à beira da extinção.
8. A Carménère foi levada ao Chile em meados do século XIX, sendo que até 1994 pensou-se se tratar de Merlot.
Pois é! Quando a Carménère foi transportada pela primeira vez de Bordeaux para o Chile, todo mundo achava que se tratava da Merlot. Muitas vezes, a Carménère fora plantada em vinhedos ao lado de vinhas de Merlot de verdade, tendo sido misturada às mesmas.
Por anos a fio pensou-se que eram uma mesma varietal, até que em 1994, o ampelógrafo francês Jean Michel Boursiquot observou como algumas das videiras “Merlot” levavam muito mais tempo para amadurecer. Boursiquot realizou pesquisas que constataram que cerca de 50% do que se pensou se tratar de Merlot, na verdade eram a Carménère originária de Bordeaux. Ufa! Finalmente, em 1998, o Chile oficializou a Carmenérè como uma variedade distinta.
9. Carménère é uma meia-irmã da Merlot, Hondarribi Beltza (do País Basco) e da Cabernet Sauvignon.
As quatro uvas, Carménère, Merlot, Hondarribi Beltza (do País Basco) e Cabernet Sauvignon possuem um mesmo “pai”, que é a Cabernet Franc. A Carménère é particularmente singular, porque tem a Cabernet Franc tanto como “pai”, quanto como “avô”. Talvez isso explique o porquê de ambas (Cabernet Franc e Carménère) terem o sabor tão semelhante.
10. Carménère é uma uva de maturação lenta, mais adequada para verões longos.
A Carménère amadurece normalmente cerca de 4 a 5 semanas após a Merlor, o que significa que a uva precisa de tempo de suspensão suficiente (um bom tempo), para maturar adequadamente. Quando isso ocorre, ela produz pequenos cachos de uvas pretas azuladas, tudo isso no outono, quando suas folhas ganham tonalidades vermelhas e alaranjadas.
A produção global de uma videira de Carménère é relativamente muito baixa, o que pode ser considerado positivo para uvas de alta concentração e qualidade. Em geral, diz-se que a uva é moderadamente difícil de crescer bem, mas é notável que se desenvolve de forma promissora em solos arenosos (onde produz vinhos elegantes e aromáticos) e em solos argilosos (onde produz vinhos mais ricos e estruturados).
Então é isso, pessoal! Adoro pesquisar sobre as uvas e resolver algumas questões que volta e meia ficam martelando na cabecinha de quem é apaixonado por vinho.
Sem falar que os amigos sabem que adoro lançar algumas questões viníferas no Facebook e fico feliz quando a galera participa! Está aí uma forma de estudar e se abrir para o novo quando se trata do nosso néctar dos deuses.
Boa semana! Ótimos vinhos! Tim-Tim!
Referência:Wine Folly
Adoro esta casta. Pena que aqui em portugal n seja mto valorizada e até dificil de encontrar os vinhos. Adoro o Purple Angel que tenho sempre na garrafeira mas raramente no nosso mercado e a uns proibitivos 50 euros.
Continuação de seu excelente trabalho
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Muito obrigada, Paulo Jorge! Também gosto muito do Carménère, mas aí em Portugal vocês têm rótulos fantásticos! Gosto muito! Abraços!
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Gostava desta casta… até perceber que nao me dava mais nada… faltava algo e isso encontro nas Syrahs e nos Alentejanos. Mas amo todas as uvas e todo vinho merece ser degustado, do pior ao melhor.
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Olá Sabrina.
Apenas gostaria de acrescentar que o Brasil agota tem um excelente exemplar dessa casta incrível: O ENOS Carménère Reserva Especial 2012 que recentemente recebeu 90 pontos no Guia Adega 2017/2018 e destaque como Melhor Carménère do Brasil.
Aos interessados: https://vinhosdeboutique.com.br/categoria-produto/reserva-especial/
Leo
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Oi, Léo. Tive a oportunidade de experimentar os vinhos da Enos na semana passada e realmente me surpreenderam positivamente, sobretudo o Carménere da safra histórica de 2012. Vocês estão de parabéns! Sucesso sempre! Abraços, Sabrina
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